O Brasil, ao contrário de alguns países da América, iniciou a impressão de livros, de maneira permanente, apenas com a chegada da Família Real em 1808.
Portugal mostrava-se irredutível neste ponto e, em todo o período colonial, nunca permitiu a instalação de prelos no Brasil. O ritmo lento da administração colonial, onde qualquer matéria poderia ser enviada para a metrópole para ser impressa, e o desejo de que os colonos não adquirissem qualquer grau de independência, são alguns dos motivos que levaram o Brasil a só tardiamente usufruir a invenção de Gutemberg.
O livro representa
o conhecimento, as novas ideias, a discussão de valores e do mundo, e nada assustava mais Portugal do que o fato de sua colônia americana ficar exposta a tais influências.
Para se ter idéia do nosso atraso, o México começou a imprimir livros já no ano de 1530 e, em Lima, em 1583, já existiam prelos.
Tão exagerado era esse desejo de isolamento por parte de Portugal, que se chegou ao absurdo de uma ordem régia de 5 de julho de 1776 em que se proibia o contato de navios norte americanos com o Brasil, mesmo que fosse para salvar a vida de náufragos. Os brasileiros que se afogassem, mas permanecessem resguardados das “perigosas ideias” que vinham deste novo país.
As primeiras tentativas para se estabelecer no Brasil os primeiros prelos ocorreram sob o domínio holandês em Pernambuco (1630-1665), onde uma carta do Supremo Conselho Holandês do Brasil é dirigida aos responsáveis da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, solicitando o envio de um prelo para que as ordens oficiais recebessem “maior consideração” e que o Conselho fosse poupado do estafante trabalho de copiar.
Escolhido o tipógrafo Pieter Janzoon, este, no entanto, veio a falecer a 3 de agosto de 1643, antes de iniciar seu trabalho. Pelos anos seguintes, procurou-se outro impressor que desejasse vir ao Brasil, não se obtendo sucesso.
Supõe-se que na mesma cidade do Recife, por volta de 1700, embora haja estudiosos que situem a data em 1746, tenha se estabelecido o primeiro prelo no Brasil. O desconhecido impressor era apadrinhado do governador Francisco de Castro Moraes, tendo esta experiência vida curta, pois tão logo o governo de Lisboa tomou conhecimento da oficina, os trabalhos tiveram que ser interrompidos.
Já em 1747, temos provas definitivas da chegada do impressor Antonio Isidoro da Fonseca, um dos principais tipógrafos de Lisboa. Aparentemente, Isidoro teve problemas com a Inquisição após ter publicado três obras de Antonio José da Silva, popular dramaturgo brasileiro, conhecido como “o Judeu”.
Segundo seu próprio testemunho, foi obrigado a vender seu negócio em Lisboa para saldar suas dividas, emigrando então para o Brasil.
Acredita-se que Isidoro tenha sido convidado pelo próprio governador Gomes Freire de Andrade para se instalar no Rio de Janeiro. É interessante lembrar que a população do Brasil, na época, era de cerca de 2,5 milhões de pessoas, dispersa pela imensidão de nosso país, onde as condições de transporte eram horríveis e a comercialização de artigos importados custosa e pouco compensadora. Os produtos manufaturados de qualquer espécie estavam muito acima das posses financeiras das pessoas.
Bastante restritas eram as condições de Isidoro para sobreviver com a venda de seus livros.
Se no Brasil colonial a educação elementar, por mais básica que fosse, era um privilégio de poucos, que se dirá da educação superior, onde se encontrariam os principais consumidores para os livros. Para se ter uma idéia, a Universidade de Coimbra, a única em todo o Império português, formou entre 1775 e 1882 apenas 720 brasileiros, enquanto que a Universidade do México, no mesmo período, formou 7850 bacharéis e 473 doutores.
Em todo o caso, Isidoro começou seus trabalhos no Rio de Janeiro publicando o primeiro livro impresso no Brasil com apenas 24 páginas, intitulado “Relação da Entrada que Fez o Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. F. Antonio Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro, em Primeiro Dia deste Presente de 1747” de autoria de Luiz Antonio Rosado da Cunha.
Em seguida, imprimiu outro trabalho “Hoc Estas Conclusiones Metaphysiae de ente Reali” de Francisco de Francisco de Faria, sendo este um resumo de sua tese defendida no Colégio dos Jesuítas no Morro do Castelo, onde era professor de filosofia.
Novamente, tão logo o governo português soube da notícia da oficina no Rio de Janeiro, ordenou ao governador que a fechasse. Isidoro voltou a Portugal após três anos no Brasil, encontrando grande dificuldade para se estabelecer novamente em Lisboa. Algum tempo depois, solicitou nova permissão para se instalar no Brasil, o que lhe foi negado.
Ficaria assim o Brasil privado oficialmente do direito de imprimir seus livros até o decreto de D. João VI, em 1808, autorizando a impressão no Brasil. Mas isto já é outra história.
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