Quando José do Patrocínio, o famoso abolicionista,
retornou de uma viagem a Paris, trouxe na bagagem não apenas livros e
champanhes de qualidade, mas uma ideia com a qual ele imaginava que iria
enriquecer da noite para o dia. Aos amigos mais próximos, confidenciou o
segredo que o tornaria rico:
“Trago de Paris um carro a vapor... O veículo do
futuro, meus amigos. Um prodígio! Léguas por hora. Não há aclives para ele: com
um hábil maquinista, vai pelo Corcovado acima como um cabrito.”
O
carro era um verdadeiro monstrengo e só para retirá-lo da alfândega foi um
transtorno. Após conseguir montá-lo (tinha fornalha, caldeira, chaminé,
correntes, grelha e ganchos), Zé do Pato, como Patrocínio era conhecido, marcou
uma manhã de domingo para dar o primeiro passeio. Chamou diversos amigos a fim
de andarem no automóvel, mas apenas o poeta Olavo Bilac teve coragem e aceitou
o convite. Ao verem aquela máquina desengonçada, soltando bufos horrendos,
cuspindo fumaça e fuligem para todo lado, deslizando pesadamente pelas ruas
pacatas da cidade, como se fosse explodir a qualquer momento, as pessoas
passaram a fugir dela como o diabo da cruz. O carro de José do Patrocínio foi
também o responsável pelo primeiro acidente automobilístico que se tem notícia
em terras fluminenses, pois colidiu com diversas árvores pelo caminho, a pouco
mais de dez quilômetros por hora, até que acabou atolado em uma vala, sendo
preciso inúmeros bois para conseguir retirá-lo dali. O sonho de Patrocínio de
enriquecer com a novidade acabou naquele mesmo dia. Anos mais tarde, o escritor
Coelho Neto chegou a ver o que restara do automóvel e disse que em suas
fornalhas estavam dormindo galinhas. Por fim, foi vendido para um ferro-velho.
Panhard Levassor produzido por volta do final do século XIX em Paris, provavelmente José do Patrocínio teria adquirido um modelo destes.