Quando José do Patrocínio, o famoso abolicionista,
retornou de uma viagem a Paris, trouxe na bagagem não apenas livros e
champanhes de qualidade, mas uma ideia com a qual ele imaginava que iria
enriquecer da noite para o dia. Aos amigos mais próximos, confidenciou o
segredo que o tornaria rico:
“Trago de Paris um carro a vapor... O veículo do
futuro, meus amigos. Um prodígio! Léguas por hora. Não há aclives para ele: com
um hábil maquinista, vai pelo Corcovado acima como um cabrito.”
O
carro era um verdadeiro monstrengo e só para retirá-lo da alfândega foi um
transtorno. Após conseguir montá-lo (tinha fornalha, caldeira, chaminé,
correntes, grelha e ganchos), Zé do Pato, como Patrocínio era conhecido, marcou
uma manhã de domingo para dar o primeiro passeio. Chamou diversos amigos a fim
de andarem no automóvel, mas apenas o poeta Olavo Bilac teve coragem e aceitou
o convite. Ao verem aquela máquina desengonçada, soltando bufos horrendos,
cuspindo fumaça e fuligem para todo lado, deslizando pesadamente pelas ruas
pacatas da cidade, como se fosse explodir a qualquer momento, as pessoas
passaram a fugir dela como o diabo da cruz. O carro de José do Patrocínio foi
também o responsável pelo primeiro acidente automobilístico que se tem notícia
em terras fluminenses, pois colidiu com diversas árvores pelo caminho, a pouco
mais de dez quilômetros por hora, até que acabou atolado em uma vala, sendo
preciso inúmeros bois para conseguir retirá-lo dali. O sonho de Patrocínio de
enriquecer com a novidade acabou naquele mesmo dia. Anos mais tarde, o escritor
Coelho Neto chegou a ver o que restara do automóvel e disse que em suas
fornalhas estavam dormindo galinhas. Por fim, foi vendido para um ferro-velho.
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ResponderExcluirBoa Noite, Sr.Martino
ResponderExcluirEstou pesquisando sobre a vida de José do Patrocínio, para realizar uma exposição. Atuo em um Programa de Difusão Cultural. Tenho lido algumas dissertações de mestrado e doutorado a respeito do abolicionista. Li,recentemente,um artigo em que ele responde, em seu jornal, à crítica daqueles que lhe chamavam de "papa-pecúlios", pois estranhavam que ele,com dificuldades financeiras,tenha conseguido montar um jornal e viajar à Europa("Perguntam-me como vivo e de que vivo e têm razão. Quem sabe que eu sou filho de uma pobre preta quitandeira de Campos deve admirar-se de me ver hoje proprietário de um jornal e de que eu pudesse fazer uma viagem à Europa).
E, então, Patrocínio dá prosseguimento ao artigo, justificando-se... .
Depois, em um site sobre a história dos automóveis no Brasil, coincidentemente, descobri que o primeiro acidente automobilístico brasileiro tinha ocorrido com veículo que lhe pertencia, ao tentar ensinar a Olavo Bilac como conduzi-lo. Mesmo com as justificativas do artigo do jornal, fiquei admirada como José do Patrocínio conseguiu adquirir um carro àquela época... o 2º automóvel do Brasil!!! O 1º, quem o trouxe foi Santos Dumont. Ambos os veículos, vindos da França. Com certeza,foram bem caros. Ainda que já sabedora dos fatos, eu adorei ler teu texto, Sr. Martino, pois escreveste com riqueza de detalhes e com uma jocosidade saborosa, que agrada ao paladar dos leitores. Parabéns!!!
Rita Brígido
Blog: Da Pulsão de Ler e Escrever
(ritabrigido.blogspot.com.br)